O perigo de uma única história – e o que isso tem a ver com a nutrição?
- Renata Campos

- 25 de mar.
- 2 min de leitura
Atualizado: 15 de mai.
A palestra "O perigo de uma única história", da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, traz uma reflexão poderosa sobre como as narrativas que ouvimos moldam nossa visão de mundo. Ela nos alerta sobre o risco de conhecer apenas uma versão dos fatos e acabar acreditando que essa é a única verdade.
Chimamanda compartilha experiências pessoais para ilustrar esse perigo.
Quando criança, lia apenas livros britânicos e americanos e, por isso, imaginava que todas as histórias precisavam ter personagens loiros, que brincavam na neve e comiam maçãs. Isso a fez perceber como a falta de representatividade pode influenciar a forma como vemos a nós mesmos e nossa cultura. Da mesma forma, ela fala sobre a visão limitada que muitos têm da África, associando o continente apenas à pobreza e ao sofrimento, ignorando sua riqueza cultural e diversidade.
Adichie nos convida a buscar múltiplas histórias, ampliando nosso olhar para além do que nos é contado repetidamente. E esse convite faz todo sentido quando falamos de nutrição.
Nutrição além de uma única história
Assim como não existe apenas uma história sobre um povo ou uma cultura, também não existe uma única abordagem alimentar correta para todos. Durante muito tempo, fomos ensinados que há "dieta certa" e "alimentos errados", que algumas formas de comer são superiores a outras. Mas será que isso realmente faz sentido?
A nutrição é tão diversa quanto as culturas e as histórias da humanidade. O que é considerado saudável para uma pessoa pode não ser para outra. Diferentes tradições alimentares ao redor do mundo foram moldadas por fatores históricos, climáticos e culturais – e todas têm valor. O Ayurveda, por exemplo, nos ensina que cada pessoa tem um dosha e necessidades únicas. A nutrição integrativa nos mostra que a alimentação vai além dos nutrientes, impactando o corpo, a mente e as emoções.
Quando aceitamos apenas uma única história sobre alimentação, caímos na armadilha das dietas da moda, dos rótulos moralistas de "certo" e "errado" e da ideia de que existe um único jeito ideal de se alimentar. Mas quando rejeitamos essa visão limitada e olhamos para a nutrição de forma mais ampla e personalizada, conquistamos um tipo de paraíso alimentar: um espaço onde há equilíbrio, prazer e respeito às individualidades.
Ampliando nosso olhar sobre a alimentação
Rejeitar a "única história" na nutrição significa abrir espaço para escolhas mais conscientes e respeitosas. Significa entender que o que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra e que alimentação saudável não é sobre seguir regras rígidas, mas sobre encontrar um caminho sustentável e prazeroso para cada um.
Assim como Chimamanda nos convida a questionar as histórias que nos contaram sobre povos e culturas, devemos questionar também as histórias que nos contaram sobre o que é comer bem. A nutrição não é uma sentença única e universal – é um processo vivo, que deve ser adaptado à realidade, às necessidades e ao bem-estar de cada um.
Vamos expandir nossa visão e acolher diferentes histórias. Ao fazer isso, não apenas transformamos nossa relação com a comida, mas também cultivamos um olhar mais compassivo e equilibrado sobre nós mesmos.


Comentários