Resenha “Atitudes de Nutricionistas em relação a Indivíduos Obesos: um estudo exploratório”
- Renata Campos

- 19 de abr.
- 3 min de leitura
Atualizado: 15 de mai.
O artigo "Atitudes de Nutricionistas em Relação a Indivíduos Obesos: Um Estudo Exploratório", de Giuliana da Costa Cori e colaboradores, investiga como as crenças e percepções dos nutricionistas influenciam o tratamento da obesidade, um dos maiores desafios da saúde pública no Brasil. A pesquisa, realizada com 344 nutricionistas – majoritariamente mulheres –, utilizou questionários online adaptados de estudos internacionais para avaliar a forma como esses profissionais compreendem os fatores causais da obesidade e como seus preconceitos podem impactar a prática clínica.
Os resultados evidenciaram um preocupante predomínio de atitudes estigmatizantes. Termos como “guloso”, “preguiçoso” e “não atraente” foram frequentemente associados aos obesos, reforçando estereótipos negativos. Além disso, enquanto fatores comportamentais, como inatividade física e baixa autoestima, foram amplamente reconhecidos como "muito importantes" na etiologia da obesidade, elementos genéticos, metabólicos e socioeconômicos receberam menor relevância. Essa ênfase excessiva no comportamento individual contribui para uma visão reducionista da obesidade, que culpa os indivíduos por sua condição, dificultando a construção de uma relação profissional empática e a formulação de estratégias terapêuticas eficazes.
Outro aspecto crítico levantado pelo estudo é a deficiência na formação dos nutricionistas, que privilegia abordagens centradas em dietas restritivas e controle calórico, negligenciando aspectos emocionais, sociais e culturais. Essa lacuna perpetua preconceitos e impacta negativamente a adesão ao tratamento. Quando os profissionais não consideram a complexidade da obesidade, aumentam as chances de insucesso terapêutico, frustração do paciente e reforço de padrões excludentes no atendimento.
Além disso, o artigo evidencia como a estigmatização influencia a prática clínica, alimentando a crença equivocada de que pessoas obesas não possuem força de vontade suficiente para emagrecer. Essa visão ignora evidências científicas sobre obesos metabolicamente saudáveis e sobre os limites das dietas restritivas na promoção de mudanças sustentáveis. Consequentemente, a internalização desses preconceitos não só prejudica a relação profissional-paciente, mas também pode levar à baixa autoestima, abandono do tratamento e impactos psicológicos severos nos indivíduos afetados.
Apesar de suas contribuições relevantes, o estudo reconhece limitações. A amostra, composta apenas por nutricionistas que participaram voluntariamente, pode não refletir a totalidade da categoria, limitando a generalização dos resultados. Além disso, o foco exclusivo nos nutricionistas exclui perspectivas de outros profissionais da saúde, como médicos e psicólogos, que poderiam enriquecer a análise multidisciplinar do problema. No entanto, mesmo com essas restrições, a pesquisa aborda com coragem um tema frequentemente negligenciado no Brasil: o impacto das crenças dos profissionais sobre os desfechos clínicos da obesidade.
O grande mérito do artigo está em apontar caminhos para mudanças necessárias. A reformulação da formação dos nutricionistas aparece como um ponto central, exigindo maior ênfase em abordagens interdisciplinares e humanizadas, que integrem fatores biológicos, psicológicos e sociais. A superação de estigmas e preconceitos é essencial para garantir um atendimento ético, inclusivo e verdadeiramente baseado em evidências científicas.
Em síntese, o artigo não apenas promove reflexões críticas, mas também alerta para a urgência de mudanças estruturais na educação em nutrição. Sem essa transformação, os estigmas persistirão, comprometendo a qualidade do atendimento e perpetuando práticas pouco eficazes no manejo da obesidade. Essa é uma leitura indispensável para estudantes e profissionais da saúde que buscam compreender e superar preconceitos, promovendo um cuidado mais humanizado e eficaz para pacientes obesos.
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Referência bibliográfica:
CORI, Giuliana da Costa; PETTY, Maria Luiza Blanques; ALVARENGA, Marle dos Santos. Atitudes de nutricionistas em relação a indivíduos obesos: um estudo exploratório. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 20, n. 2, p.485-493, fev. 2025. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-81232015202.05832014. Acesso em: 18 mar.2025


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